quarta-feira, 18 de maio de 2011

Livro - Mulheres Que Amam Demais - Robin Norwood



Prefácio:
“Dependência é uma palavra assustadora. Recorda imagens de viciados em heroína a enfiarem agulhas nos braços e a levarem, obviamente, vidas autodestrutivas. Não gostamos da palavra e não queremos aplicar o conceito à forma como nos relacionamos com os homens. Mas muitas, muitas de nós, têm sido «drogadas de homens», e tal como qualquer outro dependente temos de aceitar a gravidade do nosso estado antes de podermos recompor-nos.

Se alguma vez deu consigo obcecada por um homem, pode ter suspeitado que a raiz dessa obsessão é, não o amor, mas o medo. Todas nós que amámos obsessivamente estávamos cheias de medo. Medo de estarmos sós, de sermos inaptas para ser amadas e indignas disso, medo de sermos ignoradas, abandonadas ou destruídas. Damos o nosso amor na esperança desesperada de que o homem por quem estamos obcecadas trate dos nossos medos. Em vez disso, os nossos medos e obsessões aumentam até que dar amor para o recebermos se torna uma força dominante nas nossas vidas. E como a nossa estratégia não resulta, tentamos amar ainda mais. Amamos de mais.

Descobri o fenômeno de «amar de mais» como sendo uma síndroma específica de pensamentos, sentimentos e comportamentos ao fim de alguns anos como conselheira de alcoólicos e viciados em drogas. Depois de ter liderado centenas de entrevistas com viciados e famílias fiz uma descoberta fantástica. Muitas vezes os pacientes que entrevistava tinham crescido em famílias com problemas, outras vezes não, mas os seus parceiros provinham quase sempre de famílias com problemas em que haviam sentido um stress e um sofrimento acima do normal. Ao tentarem entender os seus parceiros dependentes, estas parceiras (conhecidas no campo do alcoolismo como «co-alcoólicas») estavam inconscientemente a recriar e a reviver aspectos significantes da sua infância.

Foi sobretudo a partir das esposas e namoradas de homens viciados que comecei a entender a natureza de amar de mais. As suas histórias pessoais revelavam a necessidade de superioridade e sofrimento ao pôr-se no papel de «salvador», ajudaram-me a entender a profundidade da sua dependência de um homem que era, pelo seu lado, viciado e dependente de uma substância. Era óbvio que ambos os parceiros destes casais necessitam de tratamento; na verdade, estavam ambos a morrer devido à sua dependência, ele dos efeitos do abuso de produtos químicos, ela dos efeitos do stress extremo.

Estas mulheres co-alcoólicas tornaram-me claro o poder e influência das suas experiências de infância no seu padrão de relacionamento com os homens. Eles têm algo a dizer-nos a todas quantas amámos de mais sobre a razão pela qual desenvolvemos a nossa predilecção por relacionamentos perturbados, pela forma como perpetuamos os nossos problemas e, mais importante do que isso, sobre a forma como podemos modificar as coisas e curar-nos.

Não tenciono insinuar que as mulheres são as únicas a amar de mais. Há homens que praticam essa obsessão com certos relacionamentos com o mesmo fervor do que qualquer mulher, e o seu comportamento e sentimentos advêm do mesmo tipo de infância e da mesma dinâmica. Porém, muitos dos homens que foram afectados durante a infância não desenvolvem relações doentias. Devido a uma interacção de factores culturais e biológicos, tentam habitualmente proteger-se e evitar o sofrimento com objectivos que são mais exteriores do que interiores, mais impessoais do que pessoais. A sua tendência é para se tornarem obcecados com o trabalho, o desporto ou com passatempos, ao passo que, devido a forças culturais e biológicas que actuam sobre ela, a tendência da mulher é para se tornar obcecada por um relacionamento, talvez com o tal homem magoado e distante.

Espero que este livro possa ser uma ajuda para quem quer que ame de mais, mas foi especialmente escrito para mulheres, porque amar de mais é basicamente um fenómeno feminino. O seu objectivo é muito específico: ajudar mulheres com padrões destrutivos de relacionamento com homens a reconhecerem esse facto, a compreenderem a origem desses padrões e a ganharem as armas que as farão mudar de vida.

Mas se for uma mulher que ama de mais, devo preveni-la de que não é um livro de leitura fácil. De facto, se a definição se lhe adapta e passar por este livro sem ser afectada nem tocada, ou se der consigo aborrecida ou arreliada ou incapaz de se concentrar no material aqui apresentado ou apenas capaz de pensar que ele poderia ajudar outra pessoa, sugiro que leia o livro mais tarde. Todos nós precisamos de negar o que é demasiado doloroso ou ameaçador para poder ser aceite por nós. A negação é um meio natural de autoprotecção que actua automaticamente e espontaneamente. Talvez numa leitura posterior seja capaz de enfrentar as suas próprias experiências e sentimentos mais profundos.

Leia devagar, tentando relacionar-se quer intelectual quer emocionalmente com estas mulheres e as suas histórias. As histórias relatadas neste livro podem parecer-lhe extremas. Garanto-lhe que a verdade é o contrário. As personalidades características e as histórias que se me depararam entre centenas de mulheres que conheci pessoalmente e profissionalmente que se adaptam à categoria de amar de mais não estão de forma alguma exageradas aqui. As suas verdadeiras histórias são muito mais complicadas e dolorosas. Se os seus problemas parecem muito mais graves e desesperados do que o seu, deixe-me que lhe diga que essa é a reacção típica da maior parte das minhas clientes. Cada uma de nós crê que o seu problema «não é assim tão mau», mesmo quando se solidariza por compaixão com a luta de outras mulheres, que, na sua opinião, têm problemas «verdadeiros».

É essa uma das ironias da vida. As mulheres capazes de reagir com simpatia e compreensão à dor na vida de outrem mantêm-se, contudo, cegas à dor que existe na sua própria vida. Sei muito bem disto, já que eu fui quase toda a minha vida uma mulher que amou de mais, até que o reflexo na minha saúde física e emocional foi tão grave que me vi obrigada a analisar o meu padrão de relacionamento com homens. Tenho passado os últimos anos a tentar arduamente mudar esse padrão. Têm sido os anos mais compensadores da minha vida.

Tenho esperança de que para quantas amam de mais este livro seja não só uma ajuda para reconhecerem a realidade mas também um encorajamento para começarem a modificá-la, redirigindo a sua atenção amorosa e, afastando-a da obsessão de um homem, a sua própria vida.

Nesta altura devo fazer um segundo aviso. Há neste livro, bem como em tantos de «auto-ajuda», uma lista de passos a dar de forma a mudar. Se decidir que quer mesmo seguir esses passos, precisará, como em toda a terapêutica, de anos de trabalho e muito empenhamento pessoal. Não há atalhos para sair dos padrões de amar de mais em que está metida. É uma forma de conduta aprendida cedo e muito praticada, e prescindir dela será assustador, ameaçador e um permanente desafio. Este aviso não tem a intenção de a desencorajar. De facto, terá de enfrentar, certamente, uma luta ao longo dos próximos anos se não mudar o seu padrão de relacionamento. Mas nesse caso a luta não será pelo crescimento, mas apenas pela sobrevivência. A escolha é sua. Se optar por iniciar o processo de cura, passará de uma mulher que ama outrem a ponto de sofrer para uma mulher que se ama o suficiente para se poupar à dor``

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